sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Um perfume floral. Rosas.


Minha última postagem ocorreu há três anos atrás mas parece uma eternidade. Tanta coisa mudou e tanta coisa continua igual! A vida é realmente fascinante mesmo que o lento passar dos dias possa parecer monótono para aquele que vive.
Esse blog foi e continua sendo um espaço de liberdade. Pouquíssimas pessoas (desenvolvendo o otimismo!) o lêem mas as palavras estão aqui, flutuando, esperando por uma busca no google.
Eu não sou a pessoa que pensei que seria em quatro anos, quando iniciei as postagens. Mesmo assim, sinto que não decepcionaria a menina de dezesseis anos com tendências feministas. Pelo menos eu aprendi a fazer maquiagem, que há momentos certos para ser séria (seriedade não é sinônimo de maturidade) e que eu sempre fui exigente demais comigo mesma e com todos. A vida não deve ser planejada; deve ser vivida e pronto. Isso exige coragem, sim. Mas é preciso, aprendemos muito pouco deslizando ininterruptamente na zona de conforto.
É ótimo sentir que a sua vida é finalmente sua e que você merece toda a felicidade que conseguir conquistar.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Amigos...

Se tem uma série que é diversão garantida para mim, é Friends. Ok, já ouvi as piadas umas 5 vezes antes. mas, por alguma razão, elas nunca perdem a graça. E a coisa que eu mais gosto é que nenhum deles é um indivíduo com características raras. É a amizade de seis pessoas tão diferentes entre si que dá aquele gostinho reconfortante e original à série. Genial.
O espisódio de hoje era sobre o casamento de Ross e Emily, aquela inglesa. A propósito, achei muito bobo o que fizeram para se livrar dela. Mas enfim, o que quero discutir aqui diz respeito à relação de Ross e Rachel.
Quando eu era menor, achava que ter um namorado era a coisa mais simples do mundo. Afinal, meus melhores amigos eram meninos. Sempre me dei melhor com eles. Eles são tão simples! Fale do seu jogo preferido, demonstre algum tipo de conhecimento um pouco mais aprofundado sobre ele e pronto: admiradores por todos os lados. E que negócio é esse de ciúme? Quando eu crescer vou ter muitos namorados e eles que façam o que quiserem! Tolinha...
O problema é quando a gente cresce... os interesses divergem...
Claro, os seios crescem e isso ajuda bastante na hora de chamar a atenção deles. Mantê-la já é outra hitória.
O pior de tudo (ou melhor) é quando tem um namorado na jogada e a gente descobre que mudou. De repente, falar de coisas tipo religião, política, problemas sociais e desenhos da Disney parece super banal. Inútil. Daí você começa a jogar um jogo com ele na internet. Um rpg sem fim. Também cansa. A seguir, a sensualidade aflora. Beijinhos, beijinhos tudo bem, tudo ótimo! Mas não dá para manter a lua-de-mel para sempre...
É uma pena que relacionamentos se desgastem. Ter alguém em quem confiar, um apoio, é bárbaro. Mas não é o bastante. Daí briga, termina. Fica de mal. Faz ciuminho. Bate aquela vontade e... volta. Vamos fazer diferente dessa vez... vamos viajar! Mas não adianta, não deu certo... Por que as pessoas fazem isso?
Por que quando um relacionamento termina a gente olha para trás e pensa que foi tão maravilhoso, que saudade, quanto tempo, vamos sair um dia desses?
Por que dá ciúme de ver o outro de namorada nova? Ele não foi descartado? Graças a Deus, outra vai ter que lidar com as manias irritantes dele! Por que nunca pensamos assim?
Cio, zelo, ciúme. Como será que os hippies lidavam com o ciúme? Amor livre, ah tá.
A propósito, tô solteira.

domingo, 9 de novembro de 2008

Post mortem

Resolvi colocar meu nome no google para ver no que dava. Lógico, no topo da página estava esse blog. Nenhum admirador secreto com tendências psicopatas... que decepção!

Comecei a ler os posts do ano passado. É um trabalho de história. O melhor trabalho que já fiz. O que deu mais trabalho. O que me trouxe as melhores conclusões... Como alguém já disse: "O único lugar em que sucesso vem antes de trabalho é o dicionário".

E agora, aqui estou, a menos de dois meses do vestibular. Minha mãe não pára de dizer para eu estudar. E tudo o que eu consigo pensar é em como minha vida está vazia.

Não estou na moda, não vejo House, não sei dançar funk (embora não pareça muito difícil, se balançar bem qualquer coisa entre as coxas e o pescoço você está apta), não tenho ficantes, não sei fazer maquiagem (sei enfiar o aplicador de rímel no olho. Não tentem imitar, dói muito). Nem tenho um cachorro!

Tenho, sim, convicções muuito abaladas. Demais. É aquela coisa: você vai crescendo e vai conhecendo o mundo, vai vendo os podres por trás de todos aqueles anúncios maravilhosos de residenciais com SPA, uma extensa área verde onde seus filhos podem brincar enquanto você relaxa na piscina ou curte uma massagem ou passa momentos maravilhosos com seus amigos no espaço gourmet.

Tô falando da guria de 11 anos que pega um livro de ficção-histórica efica aterrorizada com o que era a Idade Média. A de verdade. Cadê a princesa perfeita e o príncipe gostoso? Acorda, ninguém tomava banho naquela época! Fico admirada de pensar como é que conseguiram ter filhos. Mas tiveram. Parêntesis

Às vezes eu olho para trás e fico impressionada com a minha ingenuidade. Pensar que a guerra, nessa época, consistia em soldados (bem-treinados e com pelo menos 15 anos) que se encontravam num campo de batalha demarcado. Os vencedores anexavam a região e iam embora, ou então ficavam e se mesclavam harmoniosamente à região conquistada. Quando comecei a ler a respeito é que entendi, de verdade, o que é uma guerra. O que é um estupro. E morri de raiva dos homens, esses bárbaros que não entendem a paz. É claro que estava me referindo só ao sexo masculino.

Virei feminista radical com 13 anos. Até que aconteceu uma coisa. Não, eu não me apaixonei. Uma amiga minha, que, sem querer ofender, sempre pensei que fosse muito criança, me disse algo muito além da minha suposta sabedoria. Ela disse que sim, houve muita injustiça com as mulheres e continua havendo. Mas nem todos os homens são machistas ou aproveitadores.

Nem anjo, nem monstro. É com isso que eu conto quando vou dormir, todas as noites. Bom, eu sei de uma coisa agora: prefiro Rousseau a Hobbes.

Parêntese 1: Por que filmes tem classificação por faixa etária e livros não?
Parêntese 2: Adoro essa pintura. As duas irmãs, de Renoir (1889)

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Laços Dourados

Sexta-feira, 6 de março de 1838. O relógio do Big Ben marcava 3 horas da tarde. Uma tempestade se aproximava rapidamente das ruas de Londres, o vento levava folhas soltas pelo chão. Ali perto, sem se importar com o tempo, um casal de irmãos passou correndo com algumas frutas nas mãos. Logo depois, pessoas começaram a gritar:
Pega ladrão!!
Um guarda, que parecia ter esperado a vida toda por isso, saiu correndo e pegou a irmã. O rapaz, vendo que sua irmã havia sido pega, gritou, derrubando algumas frutas:
- Madeleine!!
- Corra Edward, eu me viro!!
Edward, quando se deu conta que estava parado, fez menção de continuar, mas já era tarde, guardas chegaram e o prenderam. Os irmãos, presos e separados, foram mandados em barcos diferentes para a Austrália (uma colônia penal da Inglaterra, para onde o excesso de criminosos e prostitutas era mandado). Na viagem, Madeleine conhece uma moça que parecia sofrida e com muita história para contar. Logo elas fazem amizade:
- Então, porque você está indo para a Austrália? - quis saber Madeleine.
- Bem, é uma longa história...- responde Sophie.
- Eu acho que eu tenho bastante tempo para te ouvir, ande me conte! Não se acanhe, meu passado também não é dos mais felizes.
- Está certo, mas depois você irá me contar sobre seu passado assim como eu. Tudo começou quando eu era criança, eu fui raptada por ciganos e levada para um bordel. Lá, sem ter dinheiro para voltar, fiquei até meus clientes não me quererem mais. Quando os homens deixaram de se interessar por mim fui expulsa do bordel. Sem saber o que fazer para arranjar dinheiro, comecei a me prostituir na rua, o que é proibido, como fui pega fazendo isso me levaram até este navio que tem destino à Austrália. Pronto terminei de contar minha história agora é sua vez!!
- Minha mãe morreu quando eu ainda era pequena, sem ter outra opção, eu e meu irmão começamos a roubar para comer já que nosso pai, não aquentando o falecimento de mamãe, morreu uma semana depois. Dias atrás, fomos pegos em flagrante em um dos nossos roubos costumeiros.
- Bem, agora que contamos nossos segredos seremos cúmplices e eternas amigas.
Meses depois, elas desembarcaram na Austrália e logo foram aprisionadas. Na prisão, tinham que trabalhar para terem o que comer. Plantavam, cozinhavam e limpavam de acordo com que os carcereiros mandassem. Não gostando de suas vidas monótonas e sem qualquer esperança de melhoras, elaboraram um plano de fuga com uma ladra que conheceram. As duas precisavam de Rosalyne, a ladra, porque ela conhecia bem a região. Naquela noite, escaparam. Após um dia de caminhada, Madaleine pôs-se a chorar repentinamente:
- Preciso encontrar meu irmão, Rosa! Mas não consigo pensar em um jeito de fazer isso sem ser reconhecida como fugitiva.
- Sei como te ajudar. Eu tenho um amigo, que é ator, e em troca de algo pode lhe dar um disfarce.
Assim, foram ao encontro do tal homem. Sophie se propôs a dar em troca do disfarce de homem as suas mais cativantes carícias. Já vestida, Madeleine se apresentou na igreja Anglicana da religião como sendo o Pastor Brown. Imediatamente, o único pastor de Igreja o acolheu.
- Já pode me ajudar com um pecador arrependido. Ele está sentado ali, esperando conselhos – e indicou um homem sentado no último banco.
- Diga, meu filho, o que lhe “aflege”?? – perguntou Madeleine, engrossando a voz.
- Meu senhor, eu bebo muito.
- Meu filho... que mal há nisso? A bebida foi feita para animar os homens e desinibir as mulheres!
- Então não é pecado eu beber até cair??
- Beba quando estiver feliz, e não para esquecer os problemas. E lembre-se: Deus ajuda quem cedo madruga!
- Obrigado Pastor Brown! O senhor é diferente dos outros pastores. Sinto que é um homem como eu!
- É... você nem imagina...
Apartir daí, o Pastor Brown se tornou uma sensação. Afinal, sua sinceridade era muito mais eficaz que o moralismo que os paroquianos estavam acostumados a ouvir.
Ele e sua esposa, Sophie Brown, faziam muitas pregações em presídios e, ao mesmo tempo, juntavam cada tostão que ganhavam na Igreja. Madeleine agora terá outro nome, Pastor Brown, e Sophie será sua mulher, pois mulheres que se casam não têm que cumprir pena, assim ela não precisa se disfarçar
Passaram–se dois anos até que finalmente Madaleine achou Edward, seu irmão e o reencontro foi um tanto quanto perturbado: Sophie estava passando pelo corredor do presídio, deixando atrás de si um monte de homens perplexos com tanta beleza, quando, de repente, ela tropeçou em um pedregulho e acabou nos braços de um homem forte, com músculos salientes e uma pose de machão que a deixou totalmente perturbada. Suas pernas pareciam perceber o quanto aquele homem era bonito. Ele dava a entender que já a conhecia de algum lugar. Parecia pelo seu olhar que também sentiu algo muito forte por Sophie, quando esta tentou se levantar eles se olharam nos olhos, iam se aproximando um do outro quando o “pastor” chegou gritando:
- Sophie, onde você está?- quando finalmente a avistou disse- então você está aí...Mas parece que você conheceu meu irmão! - disse em um sussurro.
- Madeleine? É você? Por que está vestida desse jeito?- falou Edward perplexo.
- Calma, eu fugi do meu presídio e fui em busca de uma nova vida, como não me esqueci de você resolvi procurá-lo com a ajuda de Sophie, minha amiga de anos.
- Eu quero fugir também, me ajude Madeleine!!!
- No momento você não pode fugir sem ter um plano. Eu e a Sra. Brown iremos arranjar um jeito de você fugir...
Madeleine deu seu endereço ao irmão e o ajudou arquitetar um plano para sua fuga.
Na noite seguinte, Madeleine e Sophie estavam conversando quando a campainha tocou. Madaleine foi ver quem era:
- Quem é?
- Sou eu maninha...
- Edward!!! que bom que deu tudo certo!!
- É...por pouco não me pegaram...
Edward entrou e reencontrou sua antiga paixão. Ele olhava para Sophie como se fosse um cachorro vendo um osso pela primeira vez:
- Você...
- Eu o quê? - perguntou Sophie, querendo disfarçar o interesse.
- Não lembra de mim?
- Como vou me lembrar de alguém com essa cara de besta?
- É claro que não lembraria...teve tantos que nem lembra mais...
- Você está me ofendendo!
- Desculpe, não tive a intenção.
E assim foi a conversa deles... à medida em que eles conversavam, Sophie esquecia que queria fingir que não lembrava dele. Logo, eles se aproximavam cada vez mais, até que finalmente se entregaram em uma intensa noite de paixão. Enquanto isso, Madaleine estava em seu quarto dormindo.
No dia seguinte, Madaleine acordou gritando feito uma louca dizendo que teve uma excelente idéia:
- Vamos sair daqui e morar em Bathrust?
- Onde fica isso Mad? - perguntou Edward.
- ai meu Deus!! Eu não acredito que você não sabe!
- Ai Ed, é uma cidade aqui pertinho de Sidney - respondeu Sophie.
- Ah...mas não temos muito dinheiro pra fazer essa mudança.
- Temos sim, eu tinha o meu salário de pastor. A tua irmãzinha aqui economizou bastante viu!
- Está bem irmãzinha...você foi mais esperta que eu.
- Queridinho...eu sempre fui mais esperta que você. Bem, o plano é o seguinte: na semana que vem já estaremos com tudo pronto e nos mudaremos para Bathrust. Teremos que trabalhar muito e em qualquer coisa. Vamos plantar, lavar roupas...tudo. Assim vamos guardando algum dinheiro até eu conseguir ser alguém na vida ou vocês conseguirem algo de bom. Tudo bem pra vocês?
- Como tu vai ser alguém se nem sabe ler e escrever? - perguntou Ed.
- Isso não importa agora. Posso conseguir alguém que me ajude...
Passando uma semana, lá estavam eles em uma simples casa antiga, onde os antigos proprietários tinham sido mortos por causa de ataques aborígenes que haviam até a década de 20. Edward, assim que soube, quase teve um surto:
- Vamos morar em uma casa mal assombrada?
- Ai Ed, deixa de ser " fresquinha"! Fantasmas não existem irmãozinho...
- Hshauhsuahsuhauusausuhau... "fresquinha". Ai Mad, só tu mesmo...
- Mas é verdade. Onde já se viu um homem de 19 anos com medo de mortos...
Com o passar do tempo, os três conseguiram muitos serviços. Sempre ganhavam um bom dinheiro, assim, economizavam.
Seis anos se passaram.
No ano de 1846 chegaram os novos vizinhos. Richard McDowell, de 40 anos, com sua filha Veronica, de 16 anos.
Veronica perdeu sua mãe assim que nasceu, assim, foi criada por seu pai a vida toda. Richard é um galanteador e ensinou sua filha a ser forte, lutadora...enfim, a ser uma boa pessoa. Antes, viviam na Irlanda, mas uma onda da Grande Fome e de Tifu fez com que eles emigrassem para a Austrália. Depois de uma semana em sua nova casa em Bathrust, Veronica cavava no meio da noite em seu jardim com a intenção de guardar uma pequena caixinha que tinha lembranças de sua mãe. No mesmo instante sentiu algo muito duro com a pá. Ficou curiosa, tentando desenterrar o tal objeto:
- Não acredito! - sussurrou a si mesma - ouro!
Imediatamente foi acordar seu pai :
- Pai, pai!!! Acorde papai! Encontrei ouro!!
- Ah?? Como assim? Ouro? Você só pode estar brincando.
- Não papai! É ouro mesmo!
- Minha filha, não brinque assim. Me deixe dormir.
Veronica, impaciente, tirou o lençol de seu pai e aumentou sua voz:
- Pai, eu não brincaria com isso. Agora, vamos lá no jardim comigo e o senhor verá que estou falando a verdade.
- Está bem então.
Chegando lá, Richard ficou tão surpreso, que não teve palavras. Veronica estava faceira:
- Viu papai... é ouro! O que vamos fazer com ele?
- Vamos voltar pra casa e amanhã pensaremos no que fazer...
- Mas papai...
- Faça o que eu estou mandando minha filha.
- Tudo bem.
No dia seguinte, depois de tanto pensar, Richard chegou a uma decisão: pedir ajuda aos vizinhos. Veronica foi contra, mas não adiantava ficar contra o pai. Bateram na casa dos vizinhos, onde foram bem recebidos. Porém, logo que falaram do ouro...veio a discussão:
- O ouro tem que ser dividido entre nós todos! Afinal, é o mesmo terreno! - reclamou Madaleine.
- Não! estava em meu terreno e foi minha filha quem achou!!
Depois de uma longa discussão, chegaram a um acordo: vender o ouro bruto.
- Mas o que diremos quando perguntarem de onde vem esse ouro? - perguntou Sophie.
- Hum...vamos pensar - disse Madaleine.
- Já sei!!!! - exclamou Richard - vamos dizer que os antigos proprietários deixaram esse ouro escondido no porão e, quando fizemos a faxina na casa encontramos. A casa estava desocupada desde que foi abandonada durante um ataque de selvagens, ou algo do gênero.
- Humm...a idéia é boa...o que vocês acham? - perguntou Madaleine.
- É uma boa idéia papai!
Venderam o ouro no nome de Richard, e um terço da fortuna ficou para os Strench. Tanto a vida dos Strentch e de Sophie quanto a dos McDowell mudou radicalmente após terem encontrado ouro. As mesas ficaram mais fartas, as roupas perderam o tom de terra e todos pareciam mais leves, mais felizes. Richard decidiu construir uma casa bem maior, mais de acordo com sua nova posição social.
– Minha esposa sempre quis uma bela casa onde pudéssemos criar Veronica. Veja bem, ela gostava de detalhes, de conforto. Era uma ótima esposa. Agora que tenho dinheiro, vou dar um jeito de mostrar a minha filha como ela deveria ser. Não é certo uma moça viver caminhando por aí, voltando para casa com o vestido todo sujo de lama. Ela já está na idade de se preocupar com todas essas bobagens de mulher.
– Ela foi criada por você, Richard. Não é à toa que não se sente bem quando cobram dela uma atitude de dama.
– Sei disso, Madaleine, mas veja você, por exemplo: não é dada a frescuras, mas é bonita: cabelo arrumado, rosto lavado, vestido limpo...
Madaleine ficou um pouco perturbada com o comentário. Bonita?
– Vou falar com ela. Coisas assim são fáceis de se ajeitar.
– Obrigado. Você é muito gentil – e beijou-lhe a mão.
– Boa sorte! Quero ver você dar um jeito naquele monstrinho – disse Sophie, com desdém.
Richard, preocupado, foi para casa pensando numa solução. Mas, ao mesmo tempo, pensava em Madaleine.
Enqunto a casa estava sendo construída, os McDowell foram morar com Madaleine, Edward e Sophie. Certo dia, Verônica estava lendo um livro, quando foi interrompida por Madaleine
- Sabe ler.
A menina então notou o interesse da outra e se ofereceu a ensiná-la a ler e a escrever enquanto fosse hóspede da mulher. À medida que Veronica ensinava Madaleine a ler, esta se mostrava cada vez mais interessada no assunto. Achava fascinante esse código que sempre lhe parecera inacessível. Um dia, surpreendeu a menina ao dizer:
–Veronica, me dê a sua opinião sobre essa história que eu escrevi.
Era um conto com muitos erros de grafia. Mas isso não importava porque Veronica só prestava atenção na história. Era sobre uma moça que virava um passarinho ao anoitecer e voava para longe, bem longe.
– Eu adorei – disse Veronica – Você está escrevendo bem para quem aprendeu a escrever a poucos meses.
– Mesmo? Ah, Vicky, eu te devo muito... Você me mostrou uma coisa e eu me apaixonei por ela. Poder guardar as minhas memórias, meus pensamentos... Obrigada. De verdade. Eu gostaria tanto de escrever, e fazer disso a minha vida.
– Que tal ser escritora? Se escrever é a sua paixão...
Madaleine ficou muito contente com a idéia. Se abraçaram. Foi o início de uma cumplicidade até então desconhecida para as duas.
Meses depois, a casa já estava pronta. Era realmente muito bonita, branca, com uma varanda e terra pronta para fazer um jardim. Sophie estava visivelmente com inveja, pensando por que ela não moraria numa casa assim. Afinal, uma mulher com tanto estilo quanto ela deveria morar num lugar à altura. Ela reclamou tanto para Edward que ele convenceu Madeleine a usar um pouco do dinheiro que tinham para reformar a velha casa de madeira.
Já Veronica e o pai estavam tão contentes que nem acreditavam que aquela casa era deles. E a nova realidade foi, aos poucos, mudando os dois. A moça se acostumou aos novos vestidos, mais justos, e ficava com dó de sujá-los nas suas caminhadas pelo campo. Richard suavizou seu temperamento ao fazer amizade com homens importantes da região e de Sydney.
Numa dessas reuniões, Richard conheceu um cavalheiro que lhe agradou muito. Seu nome era Jack Hudson. Educado sem ser esnobe, estava com exatos trinta anos. Seu bigode meticulosamente aparado juntamente com seus traços fortes davam-lhe um ar de homem correto, estável. Conversaram bastante naquela noite e Richard descobriu que seu novo amigo era solteiro. Impulsivamente, convidou-o para jantar em sua casa na semana seguinte. Já tinha a solução para o problema de Veronica.
Dias depois, Edward estava escovando seu cavalo, Arrow, quando viu algo que capturou seu olhar. Quem era aquela mulher que ia em direção à sua casa? Seu cabelo estava solto, balançando suavemente enquanto caminhava. Seu vestido, simples e azul-celeste, enfatizava a bela silhueta da moça. Ficou nesse estado até que ouviu a exclamação da irmã, que estava na porta da casa:
– Veronica! Que lindo seu vestido!
– Veronica? Como pode ser? Como aquela menina desajustada mudou desse jeito? – murmurou para si mesmo.
– O que você está dizendo, Ed? – perguntou Sophie, que apareceu sem o rapaz perceber.
– Só falei algo para acalmar o cavalo – mentiu, enquanto Sophie beijava seu rosto.
O perfume dela o enjoava.
– Quem foi jantar na sua casa ontem Vicky? Vi uma carruagem chegando ao anoitecer.
– Ah, foi um amigo de papai. Jack Hudson.
– Hmm. Boa pessoa?
– É... me parece um pouco convencido. Passou a noite falando sobre sua casa, suas terras...
– E seu pai, como estava?
– Bastante animado. Depois que eu fui dormir eles continuaram conversando por um bom tempo. Parecem bem amigos. Mas pelo menos eu tive a chance de usar aquele vestido bonito que papai me deu. Na verdade, ele insistiu que eu o usasse.
Madaleine sentiu algo estranho no ar. Richard levando amigos para jantar... O melhor vestido de Veronica...
Foi falar com Richard para descobrir o que estava acontecendo.
– Pensei numa solução perfeita, Madaleine! Casamento! Jack ficou muito feliz com a idéia, gostou muito da minha filha – disse Richard, satisfeito.
– Mas você nem tocou nesse assunto antes com ela.
– Já está na hora... Veronica já tem 18 anos. E eles vão se gostar muito com o passar dos anos. Ela precisa de alguém que lhe dê segurança e Jack é o homem perfeito. Tem muitas terras e um nome respeitável.
– Não acredito nisso! – exclamou Veronica, que ouvia atrás da porta – Não vou me casar com alguém que nem conheço!
– O que faz aí? Mas, filha, vocês terão muito tempo para se conhecer depois do casamento!
Já era tarde. A moça correu porta afora, furiosa. Só parou quando chegou ao córrego da propriedade dos Strencht. Sentou-se na beira e chorou. Como o próprio pai fez aquilo com ela?
Ficou assim, com a cabeça enterrada nos joelhos até que um toque no ombro a sobressaltou. Olhou para cima e viu Edward.
– O que houve, Veronica? Está machucada?
Ela o pôs a par de tudo o que aconteceu naquela tarde enquanto lavava os olhos vermelhos. O rapaz ouviu atentamente e ficou muito quieto, olhando para o rio. Até que disse:
– Você sabia que isso ia acontecer algum dia. Mas eu conheço seu pai. Ele deve ter feito uma boa escolha. Deve ser um homem...
– Não é isso que importa. Eu não quero casar. Não quero ter que ficar presa em casa, ter filhos e viver para isso. Será que ninguém entende isso?
Edward riu discretamente, murmurando algo como “Não mudou nada por dentro”.
Na manhã seguinte, a primeira coisa que Richard viu foi a cama arrumada. Procurou a filha pela casa toda e no jardim. Por fim, foi à casa dos Strencht, pensando que ela poderia ter ido cedo ver a amiga.
Chegando lá, percebeu que Edward estava muito nervoso.
– Um ladrão de cavalos, pode acreditar? Roubou o Arrow! Cada coisa hoje em dia...
– Veronica está aqui? – falou Richard alarmado
– Não sei, Richard, eu não a vi. Sophie, a Vicky está aqui?
– Vicky? Já está íntimo, não é mesmo? Não, ela não está.
– Oh, não... não pode ser... – disse Richard, escondendo o rosto nas mãos.
– Richard! Veronica fugiu! Ela me deixou um bilhete dizendo que não sabia o que fazer, que vai voltar quando tiver tomado uma decisão sobre o casamento – Madalena falou, desesperada.
– Temos que ir atrás dela! – Edward decidiu.
Sophie se deu conta de algo estranho com seu amante.
Mais tarde, quando ele se arrumava para a busca, ela o abraçou e perguntou se ele a amava.
– Por que está me perguntando isso, Sophie?
Ela ficou quieta. Ele a afastou gentilmente e continuou os preparativos.
– Porque não sei mais o que está acontecendo. Antes, eu era tudo para você. Agora, você não pensa duas vezes antes de sair por aí atrás da Veronica.
– Ela pode estar com problemas! Não entende isso? Não vou arriscar a vida dela por causa...
– Por causa de mim, não é? Admita que você está apaixonado por ela!
– E se eu estiver? Eu pedi você em casamento e você recusou, disse que não era desse tipo.
– Mas eu te amo agora!
– Diz que me ama porque tem medo de me perder agora!
E saiu do quarto, deixando Sophie pensando que ele tinha razão. Não o amava... não era o homem certo para ela. Ele não tinha ambição, lhe faltava ousadia. Mas como era carinhoso e bonito...
– Espere! Espere, Edward!
Ele voltou para dentro de casa olhando-a com um ar impaciente.
– Procure nas cavernas Abercrombie. Ficam a poucas horas daqui. Ela me disse, há muito tempo, que gostava de ir lá para ficar sozinha.
Edward foi para as cavernas enquanto Richard ficou em casa. Ele estava abalado demais. Tanto que Madaleine e Sophie ficaram lá para lhe dar apoio. Estava arrependido: não esperava essa reação da filha.
Enquanto isso, uma carruagem parou em frente ao jardim. Era o sr. Hudson, como Sophie pôde constatar ao atender a porta. Ela reparou nos olhos brilhantes. Ele, no decote. A química foi instantânea.
Enquanto isso, Edward caminhava rápido, pensando em tudo o que disse à Sophie. Será o fim de tudo, daquele amor? Não, não era amor. Era fascinação: ela foi a primeira que ele viu como mulher e era nela que ele pensava nas noites na prisão. E o que sentia por Veronica?
Na casa, Richard conversava com Madaleine:
– Eu espero que ela esteja bem. Você acha que eu fiz algo muito errado?
– Ela sabe se cuidar, é forte como o pai. Mas não sei o que pensar. Só sei que você queria o bem dela. – disse, com um suspiro – Vou fazer um chá para nos acalmarmos.
– Fique...
– Só vou até a cozinha...
– Não, não é isso que eu quis dizer. Esqueça. Não é hora para isso.
Sem entender, Madaleine foi preparar um chá.
Veronica chegou às cavernas Abercrombie as 7 horas da manhã. Saiu bem cedo, pois sabia que Edward ia cavalgar às seis. Ela gostava de seguir seus passos sem que ele percebesse. Via o rapaz cortando lenha, se banhando no riacho e, claro, galopando. Ele adorava ir para longe, só ele e seu cavalo, sendo que muitas vezes só voltava ao anoitecer. Ficava pensando por que Edward não levava Sophie com ele.
Porém, quando ela entrou na caverna, sua mente se esvaziou. Aquele era o seu lugar preferido. O silêncio, pontuado apenas pelo barulho de água gotejando, lhe parecia mais divino do que as músicas que cantava na igreja.
Era hora de pensar. Mas antes, um bom lanche! “Quem disse que cavalgar três horas é fácil?” pensou ela, massageando as nádegas.
Edward chegou algumas horas depois na caverna. Não encontrou ninguém na entrada. Olhou para dentro e só viu escuridão.
– Mad, eu realmente espero que você tenha razão... fantasmas não existem.
E repetiu isso enquanto avançava, cautelosamente, com o lampião à frente. Que lugar assustador! Por que Veronica viria num lugar assim? Tropeçou em alguma coisa e deu um grito. Olhou para baixo e viu algo parecido com uma corrente. Lembrou-se das histórias de foragidos que se escondiam nessas cavernas, de uma emboscada, muita gente morta...
Sentiu gelo escorrendo pela espinha quando algo lhe tocou o ombro.
Sophie nunca tinha se sentido assim. Aquele homem era tão diferente! Tão mais esperto do que os outros que tinha conhecido... Além disso era um novo rico: estava lucrando com seu vinhedo, o primeiro da Austrália.
Ficaram conversando muito tempo na varanda. Sophie evitou falar sobre seu passado: queria começar tudo de novo, queria ser boa o bastante para Jack. Ele pensava no que diria ao McDowell sobre o noivado desmanchado.
Na caverna, ouviu-se outro grito.
– Calma, Ed! Sou eu!
– Veronica! Ah, que bom que é você!
– Quem mais poderia ser? – riu, os olhos brilharam.
Voltaram juntos. Edward contou a ela como Richard se sentiu mal com tudo aquilo e como ele não a obrigaria mais a se casar. Agora estava tudo bem. Montados no mesmo cavalo, ambos estavam quietos, sentindo a proximidade entre eles aumentar. Até que o homem parou o cavalo, desceu e disse:
– Não jogue sua vida fora. Fugi da prisão e por isso nunca poderíamos dizer com certeza “é aqui que vamos viver”. Não daria certo. Você deve procurar por alguém que te dê uma vida estável, filhos e...
Veronica, abraçando Edward, sussurrou:
– É aqui que eu quero viver.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Romance Australiano


Retornando às atividades! Meu grupo (Costa, Luciana Nunes, Pedro Yago, Sílvia e eu) decidiu ambientar a história num lugar que, para mim, é fascinante: a Austrália da metade do século XIX. Minha personagem, Veronica McDowell, saiu da Irlanda aos 11 anos de idade com seu pai, Richard McDowell em direção a esse novo mundo. Sua mãe morreu logo após seu nascimento. Por essa razão, seu pai a criou sozinho. Tentou fazê-lo da melhor maneira possível: a ensinou a ser forte, persistente e lutadora. Porém, por não entender muita coisa de mulheres, Veronica acabou se tornando pouco feminina. Rústica, ela não se preocupa com aparências: está muito ocupada ajudando seu pai em trabalhos nada delicados. Com certeza, desde cedo sua vida foi muito dura, com uma rotina de cuidar de plantações, limpar terrenos, fazer consertos domésticos, arrumar as próprias roupas, cozinhar e cuidar dela própria e de seu pai. Na Austrália, nada em sua vida vai vai se alterar por um bom tempo, até que uma mudança radical ocorra em seu mundo, obrigando-a a tomar uma decisão que mudará todo o rumo de sua vida: a escolha da liberdade de ser o que ela quer ou de se submeter ao destino da maioria de suas conhecidas. Veronica tem longos cabelos castanhos, pele clara, olhos escuros e mãos permanentemente sujas de terra. Por trás da figura de trabalhadora incansável, está uma garota que sonha com aventuras em terras além das que ela cava todos os dias. O tema musical dela não poderia ser outro além de Woman In Chains, do Tears for Fears (não, não é da minha época por isso poucos devem conhecer) e The Dead Heart, do Midnight Oil (banda australiana que explora muito o tema da questão aborígene) quem quiser ouvir clica aqui http://musica.busca.uol.com.br/radio/index.php?ref=Musica&busca=The+dead+heart&param1=homebusca&q=The+dead+heart&check=musica

segunda-feira, 26 de março de 2007

Não acabou ainda!

Nas camadas mais pobres da sociedade, muitas famílias não conseguiam se manter só com o trabalho do homem da casa. Por essa razão, esposas e filhas solteiras tinham que complementar a renda familiar, exercendo ofícios considerados femininos, tais como os de empregada doméstica, costureira, modista e profissões ligadas à alimentação. Catherine Hall, na obra “História da Vida Privada”, volume 4, escreveu algo interessante sobre isso: “No começo da década de 1840 (...) já estava bem assente que uma burguesa que trabalhasse para ganhar dinheiro não era feminina. No caso do trabalho das mulheres pobres, as normas eram um pouco diferentes. As mulheres podiam ter um ofício, se fosse um prolongamento de seu papel feminino ‘natural’.”

Embora fossem trabalhos considerados “de mulher”, não pense que eram atividades leves. Pelo contrário, a vida de empregada doméstica (ao lado) era bastante dura, com longas jornadas de trabalho, salários muito baixos e, às vezes, sujeita a abusos por parte do patrão. As costureiras trabalhavam longas horas, eventualmente noite adentro, para entregarem os vestidos no prazo.

É importante notar que a mulher continuava tendo a responsabilidade de cuidar da casa, filhos e marido além de ter um emprego fora do lar. Por isso, nota-se que a vida dessas mulheres era bastante dura, dividida entre a família e trabalhos fora de casa. Além disso, famílias desestruturadas não eram coisa rara e muitas moças tinham que se virar como podiam. Nesse cenário, mesmo em meio à moral vitoriana, muitas garotas ingressaram na prostituição.

A maioria delas entrava para esse mundo no fim da adolescência. Era uma vida perigosa, pois doenças sexualmente transmissíveis (em especial a sífilis e a gonorréia) estavam se espalhando, tanto que o Parlamento aprovou em 1864 o primeiro dos “Contagious Diseases Acts” (Atos de Doenças Contagiosas), que permitiam a inspeção de mulheres cuja saúde era motivo de suspeita. Também haviam locais especializados no tratamento dessas doenças, embora as técnicas utilizadas não fossem as mais eficazes.

Como foi possível ver, o século XIX foi uma época de transição entre a mulher típica do século XVIII e a nova mulher do século XX. Conquistas importantes foram atingidas, abrindo caminho para outras conquistas mais radicais que garantiram maior igualdade entre o homem e a mulher na maior parte do mundo capitalista. Porém, mesmo nesses locais, algumas mulheres sofrem com salários mais baixos, discriminação e abusos. Em algumas partes do globo, a porção feminina da população é alvo de violência muito forte, como mutilações e cerceamento de liberdade. Espero que essa situação mude, mesmo que aos poucos, como foi o caso do início da emancipação feminina do século XIX.

Bibliografia:

domingo, 25 de março de 2007

Algumas inovações

A classe média inglesa (composta por donos de fábricas, banqueiros, comerciantes, advogados e por outros profissionais), especialmente a partir de 1880, se tornou o berço da emancipação feminina nesse país. Já veremos o porquê disso, mas vou dar uma dica: a necessidade é a mãe da invenção.

Nessa classe, as obrigações da mulher casada eram similares às das mulheres da aristocracia: cuidar dos filhos, do marido e dirigir a casa (sendo que grande parte dos lares possuía empregadas). Da mesma forma, tinham limitações semelhantes (inferioridade frente ao homem, sem representação política, poucos direitos frente ao marido).

Porém, algumas famílias de classe média não tinham condições de “manter suas filhas com todo o conforto, quando elas não casavam nem trabalhavam” (Eric J. Hobsbawm, A Era dos Impérios 1875-1914, p. 285). Por essa razão, os pais tinham necessidade de dar um pouco mais de liberdade às filhas, especialmente em relação a empregos e estudo.

Ao mesmo tempo, estavam ocorrendo mudanças na economia da Inglaterra. A Segunda Revolução Industrial havia se implantado desde o início do século XIX, mas se desenvolveu notoriamente entre 1870 e 1890, aumentando a quantidade de empregos para mulheres, especialmente em lojas e escritórios. “Na Inglaterra, o governo central e local empregava 7.000 mulheres em 1881, mas 76.000 em 1911” (Eric J. Hobsbawm, A Era dos Impérios 1875-1914, p. 283). Da mesma forma, aumentou o número de professoras primárias na Inglaterra, fruto do desenvolvimento da educação, que, a meu ver, se relaciona intimamente com a Segunda Revolução Industrial, época de numerosos avanços tecnológicos. Assim, especialmente as mulheres de classe média foram beneficiadas com essa mudança no cenário trabalhista feminino. Acima, uma central telefônica. Note o grande número de trabalhadoras.

Outra coisa importante para o aumento do desejo da emancipação feminina foram os movimentos dos operários e dos socialistas em prol dos direitos dos oprimidos. Como as mulheres se encaixavam nesse quadro, algumas até se filiaram a esses movimentos, especialmente mulheres da classe média.

Algo muito importante que ocorreu no final do século XIX foi a campanha das “sufragistas” (ou “suffragettes”, mulheres da classe média), que, como o próprio nome diz, queriam que o voto fosse estendido às mulheres. Elas só conseguiram o direito ao voto depois da Primeira Guerra Mundial. Esse foi um grande passo, pois foi a primeira vez que mulheres inglesas se organizaram e foram contra a opinião da maior parte dos homens e, por isso, passaram a ter representação política. Pensando bem, é um passo enorme, já que algumas décadas antes, pouquíssimas mulheres ousavam ir contra o lema que era marcado na mente das mulheres: o lugar da mulher não é a esfera pública e tudo o que acontece fora de casa não interessa a elas, já que sua compreensão é muito limitada.

Essa idéia de mulher fútil, frágil e dependente estava muito presente nas propagandas de produtos para mulheres, como pode ser percebido na propaganda de sabonete, ao lado. O que é estranho, já que nas lojas e butiques, as freguesas (especialmente de classe média) eram tratadas com muito respeito, porque as mulheres eram clientes extremamente importantes, já que recebiam dinheiro de seus maridos ou ganhavam um salário.

Na próxima parte, a situação das mulheres pobres.