domingo, 25 de março de 2007

Algumas inovações

A classe média inglesa (composta por donos de fábricas, banqueiros, comerciantes, advogados e por outros profissionais), especialmente a partir de 1880, se tornou o berço da emancipação feminina nesse país. Já veremos o porquê disso, mas vou dar uma dica: a necessidade é a mãe da invenção.

Nessa classe, as obrigações da mulher casada eram similares às das mulheres da aristocracia: cuidar dos filhos, do marido e dirigir a casa (sendo que grande parte dos lares possuía empregadas). Da mesma forma, tinham limitações semelhantes (inferioridade frente ao homem, sem representação política, poucos direitos frente ao marido).

Porém, algumas famílias de classe média não tinham condições de “manter suas filhas com todo o conforto, quando elas não casavam nem trabalhavam” (Eric J. Hobsbawm, A Era dos Impérios 1875-1914, p. 285). Por essa razão, os pais tinham necessidade de dar um pouco mais de liberdade às filhas, especialmente em relação a empregos e estudo.

Ao mesmo tempo, estavam ocorrendo mudanças na economia da Inglaterra. A Segunda Revolução Industrial havia se implantado desde o início do século XIX, mas se desenvolveu notoriamente entre 1870 e 1890, aumentando a quantidade de empregos para mulheres, especialmente em lojas e escritórios. “Na Inglaterra, o governo central e local empregava 7.000 mulheres em 1881, mas 76.000 em 1911” (Eric J. Hobsbawm, A Era dos Impérios 1875-1914, p. 283). Da mesma forma, aumentou o número de professoras primárias na Inglaterra, fruto do desenvolvimento da educação, que, a meu ver, se relaciona intimamente com a Segunda Revolução Industrial, época de numerosos avanços tecnológicos. Assim, especialmente as mulheres de classe média foram beneficiadas com essa mudança no cenário trabalhista feminino. Acima, uma central telefônica. Note o grande número de trabalhadoras.

Outra coisa importante para o aumento do desejo da emancipação feminina foram os movimentos dos operários e dos socialistas em prol dos direitos dos oprimidos. Como as mulheres se encaixavam nesse quadro, algumas até se filiaram a esses movimentos, especialmente mulheres da classe média.

Algo muito importante que ocorreu no final do século XIX foi a campanha das “sufragistas” (ou “suffragettes”, mulheres da classe média), que, como o próprio nome diz, queriam que o voto fosse estendido às mulheres. Elas só conseguiram o direito ao voto depois da Primeira Guerra Mundial. Esse foi um grande passo, pois foi a primeira vez que mulheres inglesas se organizaram e foram contra a opinião da maior parte dos homens e, por isso, passaram a ter representação política. Pensando bem, é um passo enorme, já que algumas décadas antes, pouquíssimas mulheres ousavam ir contra o lema que era marcado na mente das mulheres: o lugar da mulher não é a esfera pública e tudo o que acontece fora de casa não interessa a elas, já que sua compreensão é muito limitada.

Essa idéia de mulher fútil, frágil e dependente estava muito presente nas propagandas de produtos para mulheres, como pode ser percebido na propaganda de sabonete, ao lado. O que é estranho, já que nas lojas e butiques, as freguesas (especialmente de classe média) eram tratadas com muito respeito, porque as mulheres eram clientes extremamente importantes, já que recebiam dinheiro de seus maridos ou ganhavam um salário.

Na próxima parte, a situação das mulheres pobres.

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