segunda-feira, 25 de junho de 2007

Laços Dourados

Sexta-feira, 6 de março de 1838. O relógio do Big Ben marcava 3 horas da tarde. Uma tempestade se aproximava rapidamente das ruas de Londres, o vento levava folhas soltas pelo chão. Ali perto, sem se importar com o tempo, um casal de irmãos passou correndo com algumas frutas nas mãos. Logo depois, pessoas começaram a gritar:
Pega ladrão!!
Um guarda, que parecia ter esperado a vida toda por isso, saiu correndo e pegou a irmã. O rapaz, vendo que sua irmã havia sido pega, gritou, derrubando algumas frutas:
- Madeleine!!
- Corra Edward, eu me viro!!
Edward, quando se deu conta que estava parado, fez menção de continuar, mas já era tarde, guardas chegaram e o prenderam. Os irmãos, presos e separados, foram mandados em barcos diferentes para a Austrália (uma colônia penal da Inglaterra, para onde o excesso de criminosos e prostitutas era mandado). Na viagem, Madeleine conhece uma moça que parecia sofrida e com muita história para contar. Logo elas fazem amizade:
- Então, porque você está indo para a Austrália? - quis saber Madeleine.
- Bem, é uma longa história...- responde Sophie.
- Eu acho que eu tenho bastante tempo para te ouvir, ande me conte! Não se acanhe, meu passado também não é dos mais felizes.
- Está certo, mas depois você irá me contar sobre seu passado assim como eu. Tudo começou quando eu era criança, eu fui raptada por ciganos e levada para um bordel. Lá, sem ter dinheiro para voltar, fiquei até meus clientes não me quererem mais. Quando os homens deixaram de se interessar por mim fui expulsa do bordel. Sem saber o que fazer para arranjar dinheiro, comecei a me prostituir na rua, o que é proibido, como fui pega fazendo isso me levaram até este navio que tem destino à Austrália. Pronto terminei de contar minha história agora é sua vez!!
- Minha mãe morreu quando eu ainda era pequena, sem ter outra opção, eu e meu irmão começamos a roubar para comer já que nosso pai, não aquentando o falecimento de mamãe, morreu uma semana depois. Dias atrás, fomos pegos em flagrante em um dos nossos roubos costumeiros.
- Bem, agora que contamos nossos segredos seremos cúmplices e eternas amigas.
Meses depois, elas desembarcaram na Austrália e logo foram aprisionadas. Na prisão, tinham que trabalhar para terem o que comer. Plantavam, cozinhavam e limpavam de acordo com que os carcereiros mandassem. Não gostando de suas vidas monótonas e sem qualquer esperança de melhoras, elaboraram um plano de fuga com uma ladra que conheceram. As duas precisavam de Rosalyne, a ladra, porque ela conhecia bem a região. Naquela noite, escaparam. Após um dia de caminhada, Madaleine pôs-se a chorar repentinamente:
- Preciso encontrar meu irmão, Rosa! Mas não consigo pensar em um jeito de fazer isso sem ser reconhecida como fugitiva.
- Sei como te ajudar. Eu tenho um amigo, que é ator, e em troca de algo pode lhe dar um disfarce.
Assim, foram ao encontro do tal homem. Sophie se propôs a dar em troca do disfarce de homem as suas mais cativantes carícias. Já vestida, Madeleine se apresentou na igreja Anglicana da religião como sendo o Pastor Brown. Imediatamente, o único pastor de Igreja o acolheu.
- Já pode me ajudar com um pecador arrependido. Ele está sentado ali, esperando conselhos – e indicou um homem sentado no último banco.
- Diga, meu filho, o que lhe “aflege”?? – perguntou Madeleine, engrossando a voz.
- Meu senhor, eu bebo muito.
- Meu filho... que mal há nisso? A bebida foi feita para animar os homens e desinibir as mulheres!
- Então não é pecado eu beber até cair??
- Beba quando estiver feliz, e não para esquecer os problemas. E lembre-se: Deus ajuda quem cedo madruga!
- Obrigado Pastor Brown! O senhor é diferente dos outros pastores. Sinto que é um homem como eu!
- É... você nem imagina...
Apartir daí, o Pastor Brown se tornou uma sensação. Afinal, sua sinceridade era muito mais eficaz que o moralismo que os paroquianos estavam acostumados a ouvir.
Ele e sua esposa, Sophie Brown, faziam muitas pregações em presídios e, ao mesmo tempo, juntavam cada tostão que ganhavam na Igreja. Madeleine agora terá outro nome, Pastor Brown, e Sophie será sua mulher, pois mulheres que se casam não têm que cumprir pena, assim ela não precisa se disfarçar
Passaram–se dois anos até que finalmente Madaleine achou Edward, seu irmão e o reencontro foi um tanto quanto perturbado: Sophie estava passando pelo corredor do presídio, deixando atrás de si um monte de homens perplexos com tanta beleza, quando, de repente, ela tropeçou em um pedregulho e acabou nos braços de um homem forte, com músculos salientes e uma pose de machão que a deixou totalmente perturbada. Suas pernas pareciam perceber o quanto aquele homem era bonito. Ele dava a entender que já a conhecia de algum lugar. Parecia pelo seu olhar que também sentiu algo muito forte por Sophie, quando esta tentou se levantar eles se olharam nos olhos, iam se aproximando um do outro quando o “pastor” chegou gritando:
- Sophie, onde você está?- quando finalmente a avistou disse- então você está aí...Mas parece que você conheceu meu irmão! - disse em um sussurro.
- Madeleine? É você? Por que está vestida desse jeito?- falou Edward perplexo.
- Calma, eu fugi do meu presídio e fui em busca de uma nova vida, como não me esqueci de você resolvi procurá-lo com a ajuda de Sophie, minha amiga de anos.
- Eu quero fugir também, me ajude Madeleine!!!
- No momento você não pode fugir sem ter um plano. Eu e a Sra. Brown iremos arranjar um jeito de você fugir...
Madeleine deu seu endereço ao irmão e o ajudou arquitetar um plano para sua fuga.
Na noite seguinte, Madeleine e Sophie estavam conversando quando a campainha tocou. Madaleine foi ver quem era:
- Quem é?
- Sou eu maninha...
- Edward!!! que bom que deu tudo certo!!
- É...por pouco não me pegaram...
Edward entrou e reencontrou sua antiga paixão. Ele olhava para Sophie como se fosse um cachorro vendo um osso pela primeira vez:
- Você...
- Eu o quê? - perguntou Sophie, querendo disfarçar o interesse.
- Não lembra de mim?
- Como vou me lembrar de alguém com essa cara de besta?
- É claro que não lembraria...teve tantos que nem lembra mais...
- Você está me ofendendo!
- Desculpe, não tive a intenção.
E assim foi a conversa deles... à medida em que eles conversavam, Sophie esquecia que queria fingir que não lembrava dele. Logo, eles se aproximavam cada vez mais, até que finalmente se entregaram em uma intensa noite de paixão. Enquanto isso, Madaleine estava em seu quarto dormindo.
No dia seguinte, Madaleine acordou gritando feito uma louca dizendo que teve uma excelente idéia:
- Vamos sair daqui e morar em Bathrust?
- Onde fica isso Mad? - perguntou Edward.
- ai meu Deus!! Eu não acredito que você não sabe!
- Ai Ed, é uma cidade aqui pertinho de Sidney - respondeu Sophie.
- Ah...mas não temos muito dinheiro pra fazer essa mudança.
- Temos sim, eu tinha o meu salário de pastor. A tua irmãzinha aqui economizou bastante viu!
- Está bem irmãzinha...você foi mais esperta que eu.
- Queridinho...eu sempre fui mais esperta que você. Bem, o plano é o seguinte: na semana que vem já estaremos com tudo pronto e nos mudaremos para Bathrust. Teremos que trabalhar muito e em qualquer coisa. Vamos plantar, lavar roupas...tudo. Assim vamos guardando algum dinheiro até eu conseguir ser alguém na vida ou vocês conseguirem algo de bom. Tudo bem pra vocês?
- Como tu vai ser alguém se nem sabe ler e escrever? - perguntou Ed.
- Isso não importa agora. Posso conseguir alguém que me ajude...
Passando uma semana, lá estavam eles em uma simples casa antiga, onde os antigos proprietários tinham sido mortos por causa de ataques aborígenes que haviam até a década de 20. Edward, assim que soube, quase teve um surto:
- Vamos morar em uma casa mal assombrada?
- Ai Ed, deixa de ser " fresquinha"! Fantasmas não existem irmãozinho...
- Hshauhsuahsuhauusausuhau... "fresquinha". Ai Mad, só tu mesmo...
- Mas é verdade. Onde já se viu um homem de 19 anos com medo de mortos...
Com o passar do tempo, os três conseguiram muitos serviços. Sempre ganhavam um bom dinheiro, assim, economizavam.
Seis anos se passaram.
No ano de 1846 chegaram os novos vizinhos. Richard McDowell, de 40 anos, com sua filha Veronica, de 16 anos.
Veronica perdeu sua mãe assim que nasceu, assim, foi criada por seu pai a vida toda. Richard é um galanteador e ensinou sua filha a ser forte, lutadora...enfim, a ser uma boa pessoa. Antes, viviam na Irlanda, mas uma onda da Grande Fome e de Tifu fez com que eles emigrassem para a Austrália. Depois de uma semana em sua nova casa em Bathrust, Veronica cavava no meio da noite em seu jardim com a intenção de guardar uma pequena caixinha que tinha lembranças de sua mãe. No mesmo instante sentiu algo muito duro com a pá. Ficou curiosa, tentando desenterrar o tal objeto:
- Não acredito! - sussurrou a si mesma - ouro!
Imediatamente foi acordar seu pai :
- Pai, pai!!! Acorde papai! Encontrei ouro!!
- Ah?? Como assim? Ouro? Você só pode estar brincando.
- Não papai! É ouro mesmo!
- Minha filha, não brinque assim. Me deixe dormir.
Veronica, impaciente, tirou o lençol de seu pai e aumentou sua voz:
- Pai, eu não brincaria com isso. Agora, vamos lá no jardim comigo e o senhor verá que estou falando a verdade.
- Está bem então.
Chegando lá, Richard ficou tão surpreso, que não teve palavras. Veronica estava faceira:
- Viu papai... é ouro! O que vamos fazer com ele?
- Vamos voltar pra casa e amanhã pensaremos no que fazer...
- Mas papai...
- Faça o que eu estou mandando minha filha.
- Tudo bem.
No dia seguinte, depois de tanto pensar, Richard chegou a uma decisão: pedir ajuda aos vizinhos. Veronica foi contra, mas não adiantava ficar contra o pai. Bateram na casa dos vizinhos, onde foram bem recebidos. Porém, logo que falaram do ouro...veio a discussão:
- O ouro tem que ser dividido entre nós todos! Afinal, é o mesmo terreno! - reclamou Madaleine.
- Não! estava em meu terreno e foi minha filha quem achou!!
Depois de uma longa discussão, chegaram a um acordo: vender o ouro bruto.
- Mas o que diremos quando perguntarem de onde vem esse ouro? - perguntou Sophie.
- Hum...vamos pensar - disse Madaleine.
- Já sei!!!! - exclamou Richard - vamos dizer que os antigos proprietários deixaram esse ouro escondido no porão e, quando fizemos a faxina na casa encontramos. A casa estava desocupada desde que foi abandonada durante um ataque de selvagens, ou algo do gênero.
- Humm...a idéia é boa...o que vocês acham? - perguntou Madaleine.
- É uma boa idéia papai!
Venderam o ouro no nome de Richard, e um terço da fortuna ficou para os Strench. Tanto a vida dos Strentch e de Sophie quanto a dos McDowell mudou radicalmente após terem encontrado ouro. As mesas ficaram mais fartas, as roupas perderam o tom de terra e todos pareciam mais leves, mais felizes. Richard decidiu construir uma casa bem maior, mais de acordo com sua nova posição social.
– Minha esposa sempre quis uma bela casa onde pudéssemos criar Veronica. Veja bem, ela gostava de detalhes, de conforto. Era uma ótima esposa. Agora que tenho dinheiro, vou dar um jeito de mostrar a minha filha como ela deveria ser. Não é certo uma moça viver caminhando por aí, voltando para casa com o vestido todo sujo de lama. Ela já está na idade de se preocupar com todas essas bobagens de mulher.
– Ela foi criada por você, Richard. Não é à toa que não se sente bem quando cobram dela uma atitude de dama.
– Sei disso, Madaleine, mas veja você, por exemplo: não é dada a frescuras, mas é bonita: cabelo arrumado, rosto lavado, vestido limpo...
Madaleine ficou um pouco perturbada com o comentário. Bonita?
– Vou falar com ela. Coisas assim são fáceis de se ajeitar.
– Obrigado. Você é muito gentil – e beijou-lhe a mão.
– Boa sorte! Quero ver você dar um jeito naquele monstrinho – disse Sophie, com desdém.
Richard, preocupado, foi para casa pensando numa solução. Mas, ao mesmo tempo, pensava em Madaleine.
Enqunto a casa estava sendo construída, os McDowell foram morar com Madaleine, Edward e Sophie. Certo dia, Verônica estava lendo um livro, quando foi interrompida por Madaleine
- Sabe ler.
A menina então notou o interesse da outra e se ofereceu a ensiná-la a ler e a escrever enquanto fosse hóspede da mulher. À medida que Veronica ensinava Madaleine a ler, esta se mostrava cada vez mais interessada no assunto. Achava fascinante esse código que sempre lhe parecera inacessível. Um dia, surpreendeu a menina ao dizer:
–Veronica, me dê a sua opinião sobre essa história que eu escrevi.
Era um conto com muitos erros de grafia. Mas isso não importava porque Veronica só prestava atenção na história. Era sobre uma moça que virava um passarinho ao anoitecer e voava para longe, bem longe.
– Eu adorei – disse Veronica – Você está escrevendo bem para quem aprendeu a escrever a poucos meses.
– Mesmo? Ah, Vicky, eu te devo muito... Você me mostrou uma coisa e eu me apaixonei por ela. Poder guardar as minhas memórias, meus pensamentos... Obrigada. De verdade. Eu gostaria tanto de escrever, e fazer disso a minha vida.
– Que tal ser escritora? Se escrever é a sua paixão...
Madaleine ficou muito contente com a idéia. Se abraçaram. Foi o início de uma cumplicidade até então desconhecida para as duas.
Meses depois, a casa já estava pronta. Era realmente muito bonita, branca, com uma varanda e terra pronta para fazer um jardim. Sophie estava visivelmente com inveja, pensando por que ela não moraria numa casa assim. Afinal, uma mulher com tanto estilo quanto ela deveria morar num lugar à altura. Ela reclamou tanto para Edward que ele convenceu Madeleine a usar um pouco do dinheiro que tinham para reformar a velha casa de madeira.
Já Veronica e o pai estavam tão contentes que nem acreditavam que aquela casa era deles. E a nova realidade foi, aos poucos, mudando os dois. A moça se acostumou aos novos vestidos, mais justos, e ficava com dó de sujá-los nas suas caminhadas pelo campo. Richard suavizou seu temperamento ao fazer amizade com homens importantes da região e de Sydney.
Numa dessas reuniões, Richard conheceu um cavalheiro que lhe agradou muito. Seu nome era Jack Hudson. Educado sem ser esnobe, estava com exatos trinta anos. Seu bigode meticulosamente aparado juntamente com seus traços fortes davam-lhe um ar de homem correto, estável. Conversaram bastante naquela noite e Richard descobriu que seu novo amigo era solteiro. Impulsivamente, convidou-o para jantar em sua casa na semana seguinte. Já tinha a solução para o problema de Veronica.
Dias depois, Edward estava escovando seu cavalo, Arrow, quando viu algo que capturou seu olhar. Quem era aquela mulher que ia em direção à sua casa? Seu cabelo estava solto, balançando suavemente enquanto caminhava. Seu vestido, simples e azul-celeste, enfatizava a bela silhueta da moça. Ficou nesse estado até que ouviu a exclamação da irmã, que estava na porta da casa:
– Veronica! Que lindo seu vestido!
– Veronica? Como pode ser? Como aquela menina desajustada mudou desse jeito? – murmurou para si mesmo.
– O que você está dizendo, Ed? – perguntou Sophie, que apareceu sem o rapaz perceber.
– Só falei algo para acalmar o cavalo – mentiu, enquanto Sophie beijava seu rosto.
O perfume dela o enjoava.
– Quem foi jantar na sua casa ontem Vicky? Vi uma carruagem chegando ao anoitecer.
– Ah, foi um amigo de papai. Jack Hudson.
– Hmm. Boa pessoa?
– É... me parece um pouco convencido. Passou a noite falando sobre sua casa, suas terras...
– E seu pai, como estava?
– Bastante animado. Depois que eu fui dormir eles continuaram conversando por um bom tempo. Parecem bem amigos. Mas pelo menos eu tive a chance de usar aquele vestido bonito que papai me deu. Na verdade, ele insistiu que eu o usasse.
Madaleine sentiu algo estranho no ar. Richard levando amigos para jantar... O melhor vestido de Veronica...
Foi falar com Richard para descobrir o que estava acontecendo.
– Pensei numa solução perfeita, Madaleine! Casamento! Jack ficou muito feliz com a idéia, gostou muito da minha filha – disse Richard, satisfeito.
– Mas você nem tocou nesse assunto antes com ela.
– Já está na hora... Veronica já tem 18 anos. E eles vão se gostar muito com o passar dos anos. Ela precisa de alguém que lhe dê segurança e Jack é o homem perfeito. Tem muitas terras e um nome respeitável.
– Não acredito nisso! – exclamou Veronica, que ouvia atrás da porta – Não vou me casar com alguém que nem conheço!
– O que faz aí? Mas, filha, vocês terão muito tempo para se conhecer depois do casamento!
Já era tarde. A moça correu porta afora, furiosa. Só parou quando chegou ao córrego da propriedade dos Strencht. Sentou-se na beira e chorou. Como o próprio pai fez aquilo com ela?
Ficou assim, com a cabeça enterrada nos joelhos até que um toque no ombro a sobressaltou. Olhou para cima e viu Edward.
– O que houve, Veronica? Está machucada?
Ela o pôs a par de tudo o que aconteceu naquela tarde enquanto lavava os olhos vermelhos. O rapaz ouviu atentamente e ficou muito quieto, olhando para o rio. Até que disse:
– Você sabia que isso ia acontecer algum dia. Mas eu conheço seu pai. Ele deve ter feito uma boa escolha. Deve ser um homem...
– Não é isso que importa. Eu não quero casar. Não quero ter que ficar presa em casa, ter filhos e viver para isso. Será que ninguém entende isso?
Edward riu discretamente, murmurando algo como “Não mudou nada por dentro”.
Na manhã seguinte, a primeira coisa que Richard viu foi a cama arrumada. Procurou a filha pela casa toda e no jardim. Por fim, foi à casa dos Strencht, pensando que ela poderia ter ido cedo ver a amiga.
Chegando lá, percebeu que Edward estava muito nervoso.
– Um ladrão de cavalos, pode acreditar? Roubou o Arrow! Cada coisa hoje em dia...
– Veronica está aqui? – falou Richard alarmado
– Não sei, Richard, eu não a vi. Sophie, a Vicky está aqui?
– Vicky? Já está íntimo, não é mesmo? Não, ela não está.
– Oh, não... não pode ser... – disse Richard, escondendo o rosto nas mãos.
– Richard! Veronica fugiu! Ela me deixou um bilhete dizendo que não sabia o que fazer, que vai voltar quando tiver tomado uma decisão sobre o casamento – Madalena falou, desesperada.
– Temos que ir atrás dela! – Edward decidiu.
Sophie se deu conta de algo estranho com seu amante.
Mais tarde, quando ele se arrumava para a busca, ela o abraçou e perguntou se ele a amava.
– Por que está me perguntando isso, Sophie?
Ela ficou quieta. Ele a afastou gentilmente e continuou os preparativos.
– Porque não sei mais o que está acontecendo. Antes, eu era tudo para você. Agora, você não pensa duas vezes antes de sair por aí atrás da Veronica.
– Ela pode estar com problemas! Não entende isso? Não vou arriscar a vida dela por causa...
– Por causa de mim, não é? Admita que você está apaixonado por ela!
– E se eu estiver? Eu pedi você em casamento e você recusou, disse que não era desse tipo.
– Mas eu te amo agora!
– Diz que me ama porque tem medo de me perder agora!
E saiu do quarto, deixando Sophie pensando que ele tinha razão. Não o amava... não era o homem certo para ela. Ele não tinha ambição, lhe faltava ousadia. Mas como era carinhoso e bonito...
– Espere! Espere, Edward!
Ele voltou para dentro de casa olhando-a com um ar impaciente.
– Procure nas cavernas Abercrombie. Ficam a poucas horas daqui. Ela me disse, há muito tempo, que gostava de ir lá para ficar sozinha.
Edward foi para as cavernas enquanto Richard ficou em casa. Ele estava abalado demais. Tanto que Madaleine e Sophie ficaram lá para lhe dar apoio. Estava arrependido: não esperava essa reação da filha.
Enquanto isso, uma carruagem parou em frente ao jardim. Era o sr. Hudson, como Sophie pôde constatar ao atender a porta. Ela reparou nos olhos brilhantes. Ele, no decote. A química foi instantânea.
Enquanto isso, Edward caminhava rápido, pensando em tudo o que disse à Sophie. Será o fim de tudo, daquele amor? Não, não era amor. Era fascinação: ela foi a primeira que ele viu como mulher e era nela que ele pensava nas noites na prisão. E o que sentia por Veronica?
Na casa, Richard conversava com Madaleine:
– Eu espero que ela esteja bem. Você acha que eu fiz algo muito errado?
– Ela sabe se cuidar, é forte como o pai. Mas não sei o que pensar. Só sei que você queria o bem dela. – disse, com um suspiro – Vou fazer um chá para nos acalmarmos.
– Fique...
– Só vou até a cozinha...
– Não, não é isso que eu quis dizer. Esqueça. Não é hora para isso.
Sem entender, Madaleine foi preparar um chá.
Veronica chegou às cavernas Abercrombie as 7 horas da manhã. Saiu bem cedo, pois sabia que Edward ia cavalgar às seis. Ela gostava de seguir seus passos sem que ele percebesse. Via o rapaz cortando lenha, se banhando no riacho e, claro, galopando. Ele adorava ir para longe, só ele e seu cavalo, sendo que muitas vezes só voltava ao anoitecer. Ficava pensando por que Edward não levava Sophie com ele.
Porém, quando ela entrou na caverna, sua mente se esvaziou. Aquele era o seu lugar preferido. O silêncio, pontuado apenas pelo barulho de água gotejando, lhe parecia mais divino do que as músicas que cantava na igreja.
Era hora de pensar. Mas antes, um bom lanche! “Quem disse que cavalgar três horas é fácil?” pensou ela, massageando as nádegas.
Edward chegou algumas horas depois na caverna. Não encontrou ninguém na entrada. Olhou para dentro e só viu escuridão.
– Mad, eu realmente espero que você tenha razão... fantasmas não existem.
E repetiu isso enquanto avançava, cautelosamente, com o lampião à frente. Que lugar assustador! Por que Veronica viria num lugar assim? Tropeçou em alguma coisa e deu um grito. Olhou para baixo e viu algo parecido com uma corrente. Lembrou-se das histórias de foragidos que se escondiam nessas cavernas, de uma emboscada, muita gente morta...
Sentiu gelo escorrendo pela espinha quando algo lhe tocou o ombro.
Sophie nunca tinha se sentido assim. Aquele homem era tão diferente! Tão mais esperto do que os outros que tinha conhecido... Além disso era um novo rico: estava lucrando com seu vinhedo, o primeiro da Austrália.
Ficaram conversando muito tempo na varanda. Sophie evitou falar sobre seu passado: queria começar tudo de novo, queria ser boa o bastante para Jack. Ele pensava no que diria ao McDowell sobre o noivado desmanchado.
Na caverna, ouviu-se outro grito.
– Calma, Ed! Sou eu!
– Veronica! Ah, que bom que é você!
– Quem mais poderia ser? – riu, os olhos brilharam.
Voltaram juntos. Edward contou a ela como Richard se sentiu mal com tudo aquilo e como ele não a obrigaria mais a se casar. Agora estava tudo bem. Montados no mesmo cavalo, ambos estavam quietos, sentindo a proximidade entre eles aumentar. Até que o homem parou o cavalo, desceu e disse:
– Não jogue sua vida fora. Fugi da prisão e por isso nunca poderíamos dizer com certeza “é aqui que vamos viver”. Não daria certo. Você deve procurar por alguém que te dê uma vida estável, filhos e...
Veronica, abraçando Edward, sussurrou:
– É aqui que eu quero viver.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Romance Australiano


Retornando às atividades! Meu grupo (Costa, Luciana Nunes, Pedro Yago, Sílvia e eu) decidiu ambientar a história num lugar que, para mim, é fascinante: a Austrália da metade do século XIX. Minha personagem, Veronica McDowell, saiu da Irlanda aos 11 anos de idade com seu pai, Richard McDowell em direção a esse novo mundo. Sua mãe morreu logo após seu nascimento. Por essa razão, seu pai a criou sozinho. Tentou fazê-lo da melhor maneira possível: a ensinou a ser forte, persistente e lutadora. Porém, por não entender muita coisa de mulheres, Veronica acabou se tornando pouco feminina. Rústica, ela não se preocupa com aparências: está muito ocupada ajudando seu pai em trabalhos nada delicados. Com certeza, desde cedo sua vida foi muito dura, com uma rotina de cuidar de plantações, limpar terrenos, fazer consertos domésticos, arrumar as próprias roupas, cozinhar e cuidar dela própria e de seu pai. Na Austrália, nada em sua vida vai vai se alterar por um bom tempo, até que uma mudança radical ocorra em seu mundo, obrigando-a a tomar uma decisão que mudará todo o rumo de sua vida: a escolha da liberdade de ser o que ela quer ou de se submeter ao destino da maioria de suas conhecidas. Veronica tem longos cabelos castanhos, pele clara, olhos escuros e mãos permanentemente sujas de terra. Por trás da figura de trabalhadora incansável, está uma garota que sonha com aventuras em terras além das que ela cava todos os dias. O tema musical dela não poderia ser outro além de Woman In Chains, do Tears for Fears (não, não é da minha época por isso poucos devem conhecer) e The Dead Heart, do Midnight Oil (banda australiana que explora muito o tema da questão aborígene) quem quiser ouvir clica aqui http://musica.busca.uol.com.br/radio/index.php?ref=Musica&busca=The+dead+heart&param1=homebusca&q=The+dead+heart&check=musica

segunda-feira, 26 de março de 2007

Não acabou ainda!

Nas camadas mais pobres da sociedade, muitas famílias não conseguiam se manter só com o trabalho do homem da casa. Por essa razão, esposas e filhas solteiras tinham que complementar a renda familiar, exercendo ofícios considerados femininos, tais como os de empregada doméstica, costureira, modista e profissões ligadas à alimentação. Catherine Hall, na obra “História da Vida Privada”, volume 4, escreveu algo interessante sobre isso: “No começo da década de 1840 (...) já estava bem assente que uma burguesa que trabalhasse para ganhar dinheiro não era feminina. No caso do trabalho das mulheres pobres, as normas eram um pouco diferentes. As mulheres podiam ter um ofício, se fosse um prolongamento de seu papel feminino ‘natural’.”

Embora fossem trabalhos considerados “de mulher”, não pense que eram atividades leves. Pelo contrário, a vida de empregada doméstica (ao lado) era bastante dura, com longas jornadas de trabalho, salários muito baixos e, às vezes, sujeita a abusos por parte do patrão. As costureiras trabalhavam longas horas, eventualmente noite adentro, para entregarem os vestidos no prazo.

É importante notar que a mulher continuava tendo a responsabilidade de cuidar da casa, filhos e marido além de ter um emprego fora do lar. Por isso, nota-se que a vida dessas mulheres era bastante dura, dividida entre a família e trabalhos fora de casa. Além disso, famílias desestruturadas não eram coisa rara e muitas moças tinham que se virar como podiam. Nesse cenário, mesmo em meio à moral vitoriana, muitas garotas ingressaram na prostituição.

A maioria delas entrava para esse mundo no fim da adolescência. Era uma vida perigosa, pois doenças sexualmente transmissíveis (em especial a sífilis e a gonorréia) estavam se espalhando, tanto que o Parlamento aprovou em 1864 o primeiro dos “Contagious Diseases Acts” (Atos de Doenças Contagiosas), que permitiam a inspeção de mulheres cuja saúde era motivo de suspeita. Também haviam locais especializados no tratamento dessas doenças, embora as técnicas utilizadas não fossem as mais eficazes.

Como foi possível ver, o século XIX foi uma época de transição entre a mulher típica do século XVIII e a nova mulher do século XX. Conquistas importantes foram atingidas, abrindo caminho para outras conquistas mais radicais que garantiram maior igualdade entre o homem e a mulher na maior parte do mundo capitalista. Porém, mesmo nesses locais, algumas mulheres sofrem com salários mais baixos, discriminação e abusos. Em algumas partes do globo, a porção feminina da população é alvo de violência muito forte, como mutilações e cerceamento de liberdade. Espero que essa situação mude, mesmo que aos poucos, como foi o caso do início da emancipação feminina do século XIX.

Bibliografia:

domingo, 25 de março de 2007

Algumas inovações

A classe média inglesa (composta por donos de fábricas, banqueiros, comerciantes, advogados e por outros profissionais), especialmente a partir de 1880, se tornou o berço da emancipação feminina nesse país. Já veremos o porquê disso, mas vou dar uma dica: a necessidade é a mãe da invenção.

Nessa classe, as obrigações da mulher casada eram similares às das mulheres da aristocracia: cuidar dos filhos, do marido e dirigir a casa (sendo que grande parte dos lares possuía empregadas). Da mesma forma, tinham limitações semelhantes (inferioridade frente ao homem, sem representação política, poucos direitos frente ao marido).

Porém, algumas famílias de classe média não tinham condições de “manter suas filhas com todo o conforto, quando elas não casavam nem trabalhavam” (Eric J. Hobsbawm, A Era dos Impérios 1875-1914, p. 285). Por essa razão, os pais tinham necessidade de dar um pouco mais de liberdade às filhas, especialmente em relação a empregos e estudo.

Ao mesmo tempo, estavam ocorrendo mudanças na economia da Inglaterra. A Segunda Revolução Industrial havia se implantado desde o início do século XIX, mas se desenvolveu notoriamente entre 1870 e 1890, aumentando a quantidade de empregos para mulheres, especialmente em lojas e escritórios. “Na Inglaterra, o governo central e local empregava 7.000 mulheres em 1881, mas 76.000 em 1911” (Eric J. Hobsbawm, A Era dos Impérios 1875-1914, p. 283). Da mesma forma, aumentou o número de professoras primárias na Inglaterra, fruto do desenvolvimento da educação, que, a meu ver, se relaciona intimamente com a Segunda Revolução Industrial, época de numerosos avanços tecnológicos. Assim, especialmente as mulheres de classe média foram beneficiadas com essa mudança no cenário trabalhista feminino. Acima, uma central telefônica. Note o grande número de trabalhadoras.

Outra coisa importante para o aumento do desejo da emancipação feminina foram os movimentos dos operários e dos socialistas em prol dos direitos dos oprimidos. Como as mulheres se encaixavam nesse quadro, algumas até se filiaram a esses movimentos, especialmente mulheres da classe média.

Algo muito importante que ocorreu no final do século XIX foi a campanha das “sufragistas” (ou “suffragettes”, mulheres da classe média), que, como o próprio nome diz, queriam que o voto fosse estendido às mulheres. Elas só conseguiram o direito ao voto depois da Primeira Guerra Mundial. Esse foi um grande passo, pois foi a primeira vez que mulheres inglesas se organizaram e foram contra a opinião da maior parte dos homens e, por isso, passaram a ter representação política. Pensando bem, é um passo enorme, já que algumas décadas antes, pouquíssimas mulheres ousavam ir contra o lema que era marcado na mente das mulheres: o lugar da mulher não é a esfera pública e tudo o que acontece fora de casa não interessa a elas, já que sua compreensão é muito limitada.

Essa idéia de mulher fútil, frágil e dependente estava muito presente nas propagandas de produtos para mulheres, como pode ser percebido na propaganda de sabonete, ao lado. O que é estranho, já que nas lojas e butiques, as freguesas (especialmente de classe média) eram tratadas com muito respeito, porque as mulheres eram clientes extremamente importantes, já que recebiam dinheiro de seus maridos ou ganhavam um salário.

Na próxima parte, a situação das mulheres pobres.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Embora tenham tido vidas diferentes, as mulheres da classe alta, média e baixa na Inglaterra possuíam algo muito importante em comum. Todas elas eram mulheres, e sendo assim, eram consideradas seres inferiores em comparação aos homens. Suas vidas eram voltadas para o casamento e para a maternidade. Dessa forma, “solteironas” eram alvo de preconceito, pois não estavam cumprindo seu papel social. Já encontrei uma relação com a nossa época! Ainda temos esse preconceito contra mulheres mais velhas que não são casadas ou “juntadas”.

Outra coisa importante é que as mulheres só trabalhavam caso não pudessem ser sustentadas por um trabalhador do sexo masculino (seja pai, marido ou filho). Dessa forma, eram economicamente dependentes dos homens.

Agora que já fiz essa observação importante, vamos à vida aristocrática feminina. Quando pensamos nela, nos lembramos especialmente de filmes cheios de belos vestidos, cavalheiros apaixonados, moças de família (bem-comportadas), mansões formidáveis, jóias estonteantes e muito, mas muito romance.

Eu pensava isso, pelo menos. Até me dei conta que gostava da idéia de ter dezenas de vestidos, um castelo cheio de empregados e um belo e riquíssimo marido ao meu lado. O problema é que eu estava maravilhada demais com as aparências para pensar em como era essa vida realmente. Pois então vamos vê-la por dentro.

As pessoas ricas, em geral, casavam entre si. As classes sociais ainda tinham grande importância como barreiras entre pessoas. Dessa forma, por que uma mulher rica e casada com um homem rico não seria independente financeiramente dele? Por duas razões: as famílias passavam a maior parte da herança para os filhos homens. E, além disso, a pequena parte destinada à filha passaria ao patrimônio de seu marido quando ela se casasse. Da mesma forma, qualquer posse que a mulher tivesse quando solteira se tornaria posse de seu marido.

Enquanto solteira, a moça era, desde cedo, preparada para a vida de casada. Isso significa que ela era criada para respeitar a moral da sociedade. Ser uma dama prendada, em outras palavras. Uma governanta contratada pela família lhe dava lições consideradas úteis para as mulheres da época, como ler, escrever, música, pintura, línguas estrangeiras, bordar, costurar e a ter boas maneiras. Às vezes, contas simples de matemática (as 4 operações), mas nada além disso. Afinal, outros conhecimentos não a ajudariam a conseguir um marido, o jeito mais fácil de ter uma vida aprovada pela sociedade.

Enquanto isso, os irmãos da moça tinham aulas em escolas para meninos. Posteriormente, cursariam uma faculdade na qual se preparariam para a vida profissional.

O contato de mulheres solteiras com homens era bastante restrito. Não havia essa interação tátil que conhecemos hoje. Por exemplo: de maneira alguma uma mulher e um homem que acabaram de se conhecer se abraçariam ou apertariam as mãos. Conversas particulares entre pessoas de sexos opostos (que não fossem casadas uma com a outra, lógico) também não eram vistas com bons olhos. Por essa razão, nos bailes, a dança era de uma importância fundamental. Era nessas horas que as pessoas se tocavam e se olhavam sem compromisso, sem o peso da moral na consciência. Isso acontecia na classe média também.

Muitas vezes, o casamento era arranjado pelos pais do casal. Além disso, para se casar com uma moça, o homem não precisava da aprovação dela, mas sim a do futuro sogro. Esses casamentos, muitas vezes sem amor, não raro traziam muita infelicidade ao casal, mas especialmente às mulheres, pois a traição era comum e muitas esposas eram agredidas pelos maridos. Até nos dias de hoje essas coisas acontecem, mas no século XIX era pior: as mulheres tinham que sofrer caladas, porque a moral para os homens era mais liberal. Lógico. Os dominadores ditam as regras e só dominadores burros fariam regras que os prejudicassem. Assim, o homem que tivesse amantes não sofreria nada por isso, mas uma mulher adúltera cairia em desgraça por toda a sua vida. Isso valia para todas as mulheres da sociedade inglesa.

Quando casadas, já vimos que elas eram dependentes financeiramente de seus maridos. Em casa, lugar da mulher nessa época, sua vida se restringia a dirigir o lar (pois o serviço era feito por empregados), cuidar dos filhos e do marido, se arrumar de acordo com o gosto masculino e a moda da época e realizar tarefas femininas como bordar. Eventualmente ocorriam bailes e encontros da alta sociedade, normalmente organizados por elas, para diversão e para que seus maridos conhecessem novas pessoas, como contatos importantes para a vida profissional. Elas não tinham representação política, sendo que a única influência que poderiam exercer era através de seus maridos. É importante lembrar, também, que nessa época as mulheres eram peritas na arte da persuasão. Faziam até chantagem emocional! Mas, bem, fazemos isso até hoje.

A moda no século XIX foi bastante variada. Vários estilos de vestidos e adereços. Porém, algumas coisas devem ser destacadas por serem interessantes. A roupa de baixo das mulheres, usada por baixo do espartilho era uma peça inteiriça e que chegava até as canelas. As luvas, tanto longas quanto curtas, eram itens indispensáveis para as damas quando elas saíssem de casa. Em 1850 a moda eram os vestidos com saias extremamente amplas. Uma invenção muito interessante dessa época é a crinolina. Era como uma saia de armação formada por anéis de metal. Imagine sentar com aquilo! Também surgiram, nessa época, os trajes de banho. Para quem é apaixonado por vestidos, recomendo uma olhada na página da wikipedia http://en.wikipedia.org/wiki/History_of_Western_fashion e na página http://www.museumofcostume.co.uk/.

Há algo muito engraçado relacionado ao banho de mar e à moral vitoriana. Sabemos que os ingleses eram muito conservadores em relação à sexualidade. Por esse motivo, era inaceitável para a época a idéia de pessoas (em especial, mulheres) sendo vistas pelo sexo oposto enquanto se banhavam no mar. Por essa razão, foi inventada a bathing machine (algo como “máquina do banho”), que consistia em algo como um mini-vagão com duas portas. A pessoa entrava no vagão e trocava seus trajes por roupas de banho. Enquanto isso, o dispositivo era puxado em direção ao mar por cavalos. A pessoa, então, descia pela outra porta e pronto! Era descer uma escadinha e tomar banho de mar em total privacidade! Quando estivesse pronto para sair, o indivíduo hasteava uma bandeirinha sinalizadora, entrava no vagão, trocava de roupa e esperava ser rebocado para a praia. Só por esse exemplo já dá para ter uma idéia do que era a rigidez da moral vitoriana.

Lá por 1860, os decotes foram deixados de lado. A mulher era coberta da cabeça aos pés. Acredita-se que isso tenha ocorrido exatamente por causa da idéia que o corpo da mulher pertencia ao seu marido e que, por isso, ele não deveria ser exibido a outros homens. Isso me parece semelhante à situação das mulheres islâmicas que ainda são obrigadas a utilizar a burca.

Para as meninas que odeiam esportes e adoram calças, tenho novidades: os esportes foram muito importantes para as mudanças que ocorreram na vestimenta feminina do século XIX. Atividades como andar de bicicleta trouxeram, a partir de 1890, as calças para a vida das mulheres. Sim, elas eram largas e realmente esquisitas, mas são as precursoras do jeans skinny. Nessa mesma época apareceram combinações de camisa e saia, sendo que estas não tinham armações gigantescas.

Amanhã, a vida das mulheres de classe média.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Uma introdução para se situar

Quando estudamos a pré-história, aprendemos que essa época, mesmo sendo tão distante de nós, já possuía papéis definidos para os dois sexos. Enquanto elas ficavam em casa e cuidavam dos filhos, os homens saíam para caçar e sustentavam seu grupo. Mais tarde, com a agricultura, invenção provavelmente feminina (já que elas eram mais fixas às moradias), tanto homens quanto mulheres ficaram sendo responsáveis pelo sustento da família, já que ambos participavam do cultivo de gêneros alimentícios.

Na Europa feudal, a principal atividade econômica era a agricultura e a maior parte da população era composta por camponeses. Numa família camponesa, ocorre algo semelhante ao que ocorria na pré-história: as mulheres eram responsáveis pelo bem-estar das crianças e do marido, mas também ajudavam na lavoura. Dessa forma, não havia uma única pessoa responsável pela renda da família, já que todos ajudavam a ganhá-la.

Com a Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra, na metade do século XIX, as coisas mudaram. Os interesses do Estado burguês eram muito diferentes de plantar o que era necessário para viver e vender o que sobrasse. A Inglaterra queria enriquecer e, por essa razão, se industrializou, transformando os camponeses em trabalhadores assalariados das indústrias. Embora o termo “assalariado” esteja certo, tenho vontade de rir (rir para não chorar, gente) quando vejo isso escrito em algum lugar. Porque essas pessoas (homens, mulheres e crianças) trabalhavam longuíssimas horas (em torno de doze horas por dia), em péssimas condições de trabalho por um salário tão baixo, mas tão baixo, que para uma família se manter, era necessário que pai, mãe e até filhos trabalhassem nessa quase escravidão. Ainda por cima, mulheres e crianças recebiam salários menores que os homens, embora trabalhassem tão penosamente quanto eles. Isso ocorria porque os patrões sabiam que mulheres e crianças eram menos dados a protestos e, por isso, os exploravam ainda mais.

No século XIX ocorrem mudanças nessa produção amalucada em massa, basicamente por um motivo importante: as indústrias não conseguem vender tudo o que produzem. Não querendo ficar no prejuízo, elas diminuem o ritmo de produção e o número de empregados. Como não há mais tanta oferta de empregos, os homens “empurram” as mulheres para o lar, com o objetivo de diminuir a disponibilidade de mão-de-obra, garantindo mais empregos para a o setor masculino da sociedade. Dessa forma, são os homens que, em sua maioria, ganham o dinheiro que sustenta a família (como procura ilustrar a figura).

É nesse cenário que vou desenvolver o trabalho sobre o universo feminino no século XIX, dividido em três partes: o universo das inglesas ricas, de classe média e das classes mais baixas da sociedade. Amanhã, a vida das mulheres da alta sociedade inglesa.

sexta-feira, 2 de março de 2007


Ok, eu admito: foi a primeira coisa que eu pensei que seria legal escrever. A princípio, o tema "O universo feminino no século XIX" pode parecer meio restrito. Mas pensando bem, entra comportamento, estrutura familiar, moda, conquistas femininas, trabalho, sociedade...
Foi por isso que eu escolhi esse tema: por ser um assunto multifacetado e, na minha opinião, importante. Quero muito ver as diferenças entre a vida das mulheres de hoje e do século XIX. Acredito que sejam muitas, mas tenho curiosidade de ver se a nossa mente é meio século XIX nesse aspecto também.