quarta-feira, 21 de março de 2007

Embora tenham tido vidas diferentes, as mulheres da classe alta, média e baixa na Inglaterra possuíam algo muito importante em comum. Todas elas eram mulheres, e sendo assim, eram consideradas seres inferiores em comparação aos homens. Suas vidas eram voltadas para o casamento e para a maternidade. Dessa forma, “solteironas” eram alvo de preconceito, pois não estavam cumprindo seu papel social. Já encontrei uma relação com a nossa época! Ainda temos esse preconceito contra mulheres mais velhas que não são casadas ou “juntadas”.

Outra coisa importante é que as mulheres só trabalhavam caso não pudessem ser sustentadas por um trabalhador do sexo masculino (seja pai, marido ou filho). Dessa forma, eram economicamente dependentes dos homens.

Agora que já fiz essa observação importante, vamos à vida aristocrática feminina. Quando pensamos nela, nos lembramos especialmente de filmes cheios de belos vestidos, cavalheiros apaixonados, moças de família (bem-comportadas), mansões formidáveis, jóias estonteantes e muito, mas muito romance.

Eu pensava isso, pelo menos. Até me dei conta que gostava da idéia de ter dezenas de vestidos, um castelo cheio de empregados e um belo e riquíssimo marido ao meu lado. O problema é que eu estava maravilhada demais com as aparências para pensar em como era essa vida realmente. Pois então vamos vê-la por dentro.

As pessoas ricas, em geral, casavam entre si. As classes sociais ainda tinham grande importância como barreiras entre pessoas. Dessa forma, por que uma mulher rica e casada com um homem rico não seria independente financeiramente dele? Por duas razões: as famílias passavam a maior parte da herança para os filhos homens. E, além disso, a pequena parte destinada à filha passaria ao patrimônio de seu marido quando ela se casasse. Da mesma forma, qualquer posse que a mulher tivesse quando solteira se tornaria posse de seu marido.

Enquanto solteira, a moça era, desde cedo, preparada para a vida de casada. Isso significa que ela era criada para respeitar a moral da sociedade. Ser uma dama prendada, em outras palavras. Uma governanta contratada pela família lhe dava lições consideradas úteis para as mulheres da época, como ler, escrever, música, pintura, línguas estrangeiras, bordar, costurar e a ter boas maneiras. Às vezes, contas simples de matemática (as 4 operações), mas nada além disso. Afinal, outros conhecimentos não a ajudariam a conseguir um marido, o jeito mais fácil de ter uma vida aprovada pela sociedade.

Enquanto isso, os irmãos da moça tinham aulas em escolas para meninos. Posteriormente, cursariam uma faculdade na qual se preparariam para a vida profissional.

O contato de mulheres solteiras com homens era bastante restrito. Não havia essa interação tátil que conhecemos hoje. Por exemplo: de maneira alguma uma mulher e um homem que acabaram de se conhecer se abraçariam ou apertariam as mãos. Conversas particulares entre pessoas de sexos opostos (que não fossem casadas uma com a outra, lógico) também não eram vistas com bons olhos. Por essa razão, nos bailes, a dança era de uma importância fundamental. Era nessas horas que as pessoas se tocavam e se olhavam sem compromisso, sem o peso da moral na consciência. Isso acontecia na classe média também.

Muitas vezes, o casamento era arranjado pelos pais do casal. Além disso, para se casar com uma moça, o homem não precisava da aprovação dela, mas sim a do futuro sogro. Esses casamentos, muitas vezes sem amor, não raro traziam muita infelicidade ao casal, mas especialmente às mulheres, pois a traição era comum e muitas esposas eram agredidas pelos maridos. Até nos dias de hoje essas coisas acontecem, mas no século XIX era pior: as mulheres tinham que sofrer caladas, porque a moral para os homens era mais liberal. Lógico. Os dominadores ditam as regras e só dominadores burros fariam regras que os prejudicassem. Assim, o homem que tivesse amantes não sofreria nada por isso, mas uma mulher adúltera cairia em desgraça por toda a sua vida. Isso valia para todas as mulheres da sociedade inglesa.

Quando casadas, já vimos que elas eram dependentes financeiramente de seus maridos. Em casa, lugar da mulher nessa época, sua vida se restringia a dirigir o lar (pois o serviço era feito por empregados), cuidar dos filhos e do marido, se arrumar de acordo com o gosto masculino e a moda da época e realizar tarefas femininas como bordar. Eventualmente ocorriam bailes e encontros da alta sociedade, normalmente organizados por elas, para diversão e para que seus maridos conhecessem novas pessoas, como contatos importantes para a vida profissional. Elas não tinham representação política, sendo que a única influência que poderiam exercer era através de seus maridos. É importante lembrar, também, que nessa época as mulheres eram peritas na arte da persuasão. Faziam até chantagem emocional! Mas, bem, fazemos isso até hoje.

A moda no século XIX foi bastante variada. Vários estilos de vestidos e adereços. Porém, algumas coisas devem ser destacadas por serem interessantes. A roupa de baixo das mulheres, usada por baixo do espartilho era uma peça inteiriça e que chegava até as canelas. As luvas, tanto longas quanto curtas, eram itens indispensáveis para as damas quando elas saíssem de casa. Em 1850 a moda eram os vestidos com saias extremamente amplas. Uma invenção muito interessante dessa época é a crinolina. Era como uma saia de armação formada por anéis de metal. Imagine sentar com aquilo! Também surgiram, nessa época, os trajes de banho. Para quem é apaixonado por vestidos, recomendo uma olhada na página da wikipedia http://en.wikipedia.org/wiki/History_of_Western_fashion e na página http://www.museumofcostume.co.uk/.

Há algo muito engraçado relacionado ao banho de mar e à moral vitoriana. Sabemos que os ingleses eram muito conservadores em relação à sexualidade. Por esse motivo, era inaceitável para a época a idéia de pessoas (em especial, mulheres) sendo vistas pelo sexo oposto enquanto se banhavam no mar. Por essa razão, foi inventada a bathing machine (algo como “máquina do banho”), que consistia em algo como um mini-vagão com duas portas. A pessoa entrava no vagão e trocava seus trajes por roupas de banho. Enquanto isso, o dispositivo era puxado em direção ao mar por cavalos. A pessoa, então, descia pela outra porta e pronto! Era descer uma escadinha e tomar banho de mar em total privacidade! Quando estivesse pronto para sair, o indivíduo hasteava uma bandeirinha sinalizadora, entrava no vagão, trocava de roupa e esperava ser rebocado para a praia. Só por esse exemplo já dá para ter uma idéia do que era a rigidez da moral vitoriana.

Lá por 1860, os decotes foram deixados de lado. A mulher era coberta da cabeça aos pés. Acredita-se que isso tenha ocorrido exatamente por causa da idéia que o corpo da mulher pertencia ao seu marido e que, por isso, ele não deveria ser exibido a outros homens. Isso me parece semelhante à situação das mulheres islâmicas que ainda são obrigadas a utilizar a burca.

Para as meninas que odeiam esportes e adoram calças, tenho novidades: os esportes foram muito importantes para as mudanças que ocorreram na vestimenta feminina do século XIX. Atividades como andar de bicicleta trouxeram, a partir de 1890, as calças para a vida das mulheres. Sim, elas eram largas e realmente esquisitas, mas são as precursoras do jeans skinny. Nessa mesma época apareceram combinações de camisa e saia, sendo que estas não tinham armações gigantescas.

Amanhã, a vida das mulheres de classe média.

Um comentário:

Ingrid C. disse...

Caraca!! Como era horrivel a vida de antigamente!! Viva a liberdade que temos hoje!! To traumatizada agora!!

mas fora isso, o texto ficou muito bom! Vc escreveu MUITA coisa!! Nossa!!

Beijo